João Amaro da Costa é Designer Sénior na Talkdesk.
É atualmente responsável pelo design e desenvolvimento de soluções inovadoras incluindo a criação de estratégias digitais, guidelines, wireframing e layouts de produtos e peças de comunicação digitais. A honestidade, a intencionalidade e o design funcional são os seus pilares na construção de experiências consideráveis e úteis para a nossa vida. O João Acredita que a honestidade, a intenção e a utilidade são importantes ingredientes para a criação de experiências digitais notáveis no nosso dia-a-dia.
Nos últimos 8 anos, o João trabalhou com diversas marcas de referência nacional e internacional como a Vodafone, Microsoft, Universal, Kings Faculdade, FNAC, Jerónimo Martins, CGD, MEO, EDP, TAP, Visabeira, Cofina, Gallo, Honda, Galp, Hotéis Altis, Delta e Porto Editora.
As 10 perguntas básicas:
1- Qual a tua definição para UX Design?
User Experience é acima de tudo uma recente nomenclatura atribuída a uma disciplina que sempre existiu. Associo User Experience ao estudo e desenvolvimento do processo de utilização e interação do utilizador com um produto especifico. Esta experiência é resultante de um conjunto de factores que têm essencialmente por base a usabilidade (certificar se o produto a nível prático funciona sem entraves) e, por outro lado, a criação de um lado emocional com o produto (reforçado pelo User Interface). No fundo, eu diria que o UX Design é uma área que abrange a pesquisa, arquitectura de informação, estratégia, prototipagem e design de interação e indissociável do UI do produto. Pelo que só faz sentido trabalhar as duas vertentes UX e UI.
2- Em termos de qualidade, como avalias as aplicações desenvolvidas em Portugal relativamente ao que se faz internacionalmente?
Em Portugal sempre existiu o mito que, por vivermos num país pequeno, o que fazemos não tem a mesma qualidade do que é feito nos outros países. Nós somos tão bons ou melhores que os outros sobretudo na área digital e na área criativa. Temos grandes valores nestas áreas e, por isso mesmo, é que damos cartas no exterior. Portugal acaba por ser um mercado ingrato pois é um mercado curto com poucos nichos; temos sempre de agradar a gregos e a troianos. Em países maiores como a Alemanha, Inglaterra ou EUA é muito mais fácil avançar com um negócio numa área específica. Já para não referir as questões de financiamento…
3- Que sites e/ou pessoas na área ui/ux design recomendas seguir?
Tendo em conta o meu background em branding e print as minhas bases acabam por ser essencialmente designers, estúdios e agências criativas como o estúdio SawDust, This is Pacifica, Heydays, Anagrama, Pentagram e a Pearlfischer. Depois existem outras que se focam mais na área digital como a UsTwo, Moving Brands, Hello Monday, a XPlus e, obviamente, a Fantasy Interactive. Depois numa base diária tento estar atento aos WWWawards, FWA, CSS Design Awards, Sidebar, Medium e Behance. Sigo também de perto o Tobias van Schneider e o Brand Frost.
4- Como designer de interfaces preferes Android, iOS ou Windows? E porquê?
iOS. Obviamente que o facto de ser utilizador de iOS acaba por ter muito peso nesta preferência. Simplesmente acho o iOS o sistema operativo mais intuitivo, estruturado e apelativo. O facto deste sistema operativo não ter mudado estruturalmente desde que foi concebido demonstra que foi muito bem definido e pensado desde o início ao contrário do que acontece com os outros sistemas operativos.
5- Qual a tua posição face ao uso de User Kits dos Sistemas Operativos para desenhar uma aplicação?
Os recursos existentes na net, como os templates, os icon sets ou os UI kits, reduzem, de certa forma, aquilo que é o potencial do projecto. Cada projecto deve começar como uma folha em branco e todos os elementos do projecto devem ser pensados e desenhados do zero – Tábua Rasa. Esta é a forma correcta de estimular a nossa criatividade e repensar a forma de desenhar experiências digitais. Estas são as melhores práticas em termos de processo de trabalho e no fundo é para isso que trabalhamos todos os dias e é isso que valoriza o nosso trabalho. No entanto, admito que existem situações em que o budget é curto e, consequentemente, o tempo de execução do projecto também é menor o que faz com que a utilização deste tipo de recursos faça sentido de forma a acelerar o nosso trabalho.
6- Qual foi o projeto de UI/UX que mais gostaste de realizar e porquê?
Esta é uma pergunta difícil. Houve vários projectos nos quais tive muito prazer em trabalhar; projectos como o universo de aplicações da CGD, o website da Delta Q, o website da UOY e o website da Mimosa Crescer Saudável. Destaco os primeiros dois projectos pela sua dimensão e pelo que aprendi durante o seu processo e execução e os outros dois projectos pela autonomia que tive para os desenvolver.
6- A Caixa Direta é uma aplicação utilizada por um público compreendido entre 100 000 – 500 000 utilizadores. Com base nas votações das Stores, a Caixa Directa é constantemente avaliada com 5 estrelas. A que se deve este sucesso?
Existem vários ingredientes para criar uma app de sucesso. No caso da Caixa Directa, a usabilidade, o interface e a fiabilidade são factores primordiais. É uma aplicação bancária de fácil utilização (user friendly) e de grande utilidade para o dia-a-dia e, por outro lado, o factor segurança é a chave para a utilização da aplicação intra-devices sem receio, assim como, o factor performance que permite uma utilização sem bloqueios ou outro tipo de sobressaltos.
7- Baseaste-te em aplicações de bancos nacionais ou internacionais para melhorar a performance da tua app? Que secções essenciais achaste crucial melhorar neste tipo de aplicações?
Aquando a elaboração da App foi tida em conta a elaboração de outros home bankings já existentes no estrangeiro. A nível nacional o único existente e, recém publicado, era a app do BPI. No entanto era tudo enfadonho e boring. Em 2013, poucas eram as apps da área bancária a apresentarem uma experiência minimamente interessante. No fundo, era preciso fazer algo completamente disruptivo e diferente do que havia até ao momento. Por exemplo, a segmentação das movimentações bancárias por temáticas e a apresentação gráfica da posição global foi algo completamente inovador.
8- A aplicação da Caixa Direta contém um UI próprio que mantém a sua linguagem gráfica entre iOS e Android. Achas crucial manter a linguagem UI entre sistemas operativos? Há vantagens optando por esta decisão?
A Caixa Directa tem a mesma linha gráfica nas 3 diferentes plataformas aplicacionais. Neste mega projecto uma das nossas maiores preocupações enquanto equipa era manter a coesão e a consistência gráfica da identidade CGD em ambiente digital. Independentemente dos diferentes sistemas operativos e das diferentes formas de utilização, a marca Caixa Directa sobrepõe-se e deve ser automaticamente identificada e reconhecida. No entanto, há pequenos pontos, entre o iOS e o Android, em que o interface difere sendo mais evidente no caso do Windows.
9- A CGD ganhou o prémio Award EFMA 2012. Quando trabalhas no design de uma app já estás a pensar na conquista de um prémio? Estes prémios garantem uma credibilidade superior no mercado dos downloads?
A minha crença nos prémios é nula. No mundo digital o que confere a qualidade ao produto são os próprios utilizadores.
E agora… em modo RadioButton:
Para desenho de aplicações:
• Sketch
• Illustrator
• Photoshop
• Outro
Como utilizador comum:
• Android
• iOS
• Windows
Como designer preferes:
• Desenhar uma App
• Desenhar um Website Responsive
Modo de trabalho:
• Sozinho
• Em equipa
Por fim…
Há quem defenda que existem demasiadas aplicações. Como vês o futuro do mercado?
As aplicações, assim como as empresas, têm de ter um objectivo específico e uma missão em concreto. Neste momento existem muitas apps que servem o mesmo propósito. Num mercado cada vez mais exigente e competitivo há a necessidade de fazer a diferença e apostar na simplificação de processos, assim como, na criatividade – onde estão incluídas as áreas de UI e UX. Hoje em dia as empresas que têm mais sucesso são aquelas que são capazes de se transformar e acompanhar o mercado. São necessárias estruturas ágeis e bem preparadas e uma aposta evidente em R&D como é o caso da Google, Airbnb, Apple e a nível nacional da Farfetch. Cada vez existe mais startups e aplicações mas no final do dia o que sobrevive sempre são as boas ideias.